Bolsista: Ana Luiza Barbosa Godart Cavalcante
Orientador(a): SOLANGE LISBOA DE CASTRO
Resumo: A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é uma zoonose que tem como agente etiológico o protozoário hemoflagelado Trypanosoma cruzi (Chagas, 1909). O curso clínico desta enfermidade compreende duas fases distintas: aguda e crônica. A fase aguda é caracterizada pela alta parasitemia e inespecificidade dos sintomas, o que pode acarretar no tratamento inadequado e consequente evolução da doença para a fase crônica indeterminada, período em que os pacientes permanecem assintomáticos. Aproximadamente 30-40% dos pacientes progridem para a forma crônica sintomática, fase da doença definida pela redução da parasitemia e pelo desenvolvimento de manifestações clínicas cardíacas, digestivas ou ambas (Junior, 2017).
A quimioterapia para a doença de Chagas consiste na administração de Benznidazol (Bz), um nitroimidazol que possui atividade tripanocida contra todas as formas evolutivas do parasito (Coura & Castro, 2002; Junior, 2017). O Bz é uma pró-droga que, para desempenhar seus efeitos citotóxicos, precisa ser ativada por enzimas denominadas nitroredutases. As nitroredutases podem ser divididas em dois grupos: o tipo I, uma proteína dependente de NAD(P)H caracterizada por ser oxigênio-insensível e catalisar a redução de dois elétrons do grupo nitro, levando à produção de metabólitos que promovem dano ao DNA; e o tipo II, que é sensível ao oxigênio e medeia a redução de um elétron do grupo nitro, gerando um radical nitro instável que, na presença de oxigênio, reage com essa molécula e produz superóxido (Wilkinson, 2011).
Além das limitações que o fármaco apresenta, a existência de cepas de T. cruzi naturalmente resistentes ao Bz pode explicar as baixas taxas de cura da doença de Chagas (Filardi, 1987; Junior, 2017). Diferenças na suscetibilidade do parasito às drogas tripanocidas vêm sendo correlacionadas às DTUs (Toledo, 2003). A redução da atividade de nitroredutases, e consequente diminuição da metabolização de compostos nitro-heterocíclicos, é um dos mecanismos que vêm sendo propostos para a resistência aos fármacos (Wilkinson, 2008; Díaz-Viraqué, 2018).
Diante de uma quimioterapia limitada, a combinação de fármacos surge como alternativa para contornar o problema de falha terapêutica. A associação de medicamentos com efeito sinérgico pode resultar em maior eficácia do tratamento, redução da resistência e dos efeitos colaterais (Trinconi, 2014). Nosso grupo tem focado no estudo de tratamentos alternativos para a doença de Chagas, em especial na atividade tripanocida de naftoquinonas e derivados. Compostos naftoimidazólicos N1, N2, N3 e N4 foram estudados e mostraram relação com a disfunção mitocondrial, levando à produção de ROS e morte dos parasitos in vitro (Menna-Barreto, 2009; Bombaça, 2021). A combinação de Bz a esses compostos pode ser estudada como uma estratégia para lidar com as limitações do atual tratamento.
Apesar do Benznidazol ser o fármaco de escolha para a doença de Chagas, devido a sua alta toxicidade e taxa de cura limitada, a droga é considerada longe do ideal e sua prescrição ainda é controversa (Junior, 2017). A existência de cepas de T. cruzi naturalmente resistentes ao nitroderivado é um importante fator que pode explicar os diversos casos de falha terapêutica (Filardi, 1987; Junior, 2017). Diante desta problemática, compreender o que leva o parasito em determinados casos não responder ao Bz é importante para auxiliar no tratamento dos pacientes chagásicos. Nesse sentido, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo in vitro da resistência e falha terapêutica de Bz, analisando a relação entre as seis DTUs e a suscetibilidade/resistência natural ao fármaco, o papel das nitroredutases na resistência do parasito e desenvolver ensaios de combinação de drogas com a finalidade de contornar a falha terapêutica.