Bolsista: CLEO PEREIRA DE ALMEIDA
Orientador(a): VERONICA MARQUES ZEMBRZUSKI
Resumo: A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) é uma doença neurodegenerativa fatal causada por uma combinação de fatores genéticos e ambientais e disfunções relacionadas à idade. Seus sintomas clínicos, como fraqueza muscular progressiva, junto à atrofia e fasciculações, ocorrem devido ao comprometimento dos neurônios motores superior e inferior, e os do córtex frontal. A morte ocorre por paralisia respiratória em 2-5 anos.
Mais de 20 genes já foram associados à patologia, embora mutações em um único gene expliquem a condição em apenas 15% dos pacientes. Entre tais genes, citamos três, que serão o foco de estudo deste projeto:
VAPB: envolvido no transporte de proteínas para o retículo endoplasmático e sua ativação se dá quando proteínas mal dobradas se acumulam nesse compartimento celular.
UBQLN2: envolvido com processos de ubiquitinação e degradação de proteínas no proteossomo, atuando na via de degeneração do neurônio motor.
PFN1: envolvido na integridade do citoesqueleto celular e no transporte axonal, interferindo na rede de tubulinas.
Encontrar biomarcadores genéticos é crucial para o diagnóstico, prognóstico ou estudos preditivos da ELA, pois permitem estratificar os pacientes e monitorar efeitos de tratamentos. Entre os objetivos específicos, e a metodologia a eles relacionada, temos: i. Avaliar as variáveis fenotípicas dos 22 casos de 14 famílias com a mutação VAPB P56S, já diagnosticada, a partir da análise dos registros médicos dos pacientes para caracterizar a heterogeneidade clínica da ELA (etapa não presencial); ii. Analisar os eletroferogramas do gene UBQLN2 de 164 pacientes, gerados por sequenciamento de Sanger da sua região codificadora pela aluna de doutorado vinculada ao projeto (etapa não presencial); iii. Realizar o rastreamento do gene PFN1 em 164 pacientes por sequenciamento de Sanger (etapa presencial no LGH-IOC). Para os objetivos ii e iii, as mutações encontradas serão descritas, comparando com os padrões observados em outras populações e analisando o impacto molecular das variantes novas na estrutura da proteína e seu potencial patogênico, através de ferramentas de bioinformática.
Todos os pacientes foram diagnosticados com ELA através de exames clínicos e neurofisiológicos; a coleta de sangue, com posterior extração do DNA, foi feita após a assinatura do TCLE.
Dentre os 22 pacientes com a mutação VAPB P56S, 9 são do sexo masculino, enquanto 13 são do sexo feminino. A idade média em que ocorreu o início dos sintomas foi de 45,2 anos (DP= 7,184), e todos apresentavam histórico familiar de ELA. O local de nascimento desses indivíduos se concentrou na região sudeste do Brasil; segundo os critérios de raça/cor (IBGE), observamos que 86,4% são brancos e 13,6% são pardos. Em relação às características clínicas, 2 pacientes apresentaram disfagia, 3, disartria e 16, câimbra. Nenhum dos indivíduos apresentou característica fenotípica que se sobreponha à demência frontotemporal. Embora seja comum observarmos pacientes P56S com protusão abdominal, apenas 7 indivíduos na nossa amostra apresentaram tal fenótipo. Treze pacientes apresentaram comorbidades, sendo a hipertensão e a obesidade as mais comuns. Sobre o local de início dos sintomas, grande parte da nossa amostra (n=20) teve início Espinhal (membros inferiores afetados), apesar da ausência de registro para dois pacientes.
Uma vez que as regras para a volta das atividades presenciais dos alunos foram flexibilizadas, iniciamos a padronização dos experimentos do gene UBQLN2, para posterior análise dos eletroferogramas. Assim que a aluna se familiarizar com a rotina do laboratório e as técnicas de biologia molecular, serão iniciados os experimentos referentes ao rastreamento do gene PFN1.
A partir do conhecimento das variantes que circulam na nossa população, poderemos correlacioná-las com o perfil clínico dos pacientes com ELA, o que irá permitir uma melhor compreensão da doença, bem como o desenvolvimento de métodos diagnósticos mais precisos e tratamentos mais eficientes.