Bolsista: RODRIGO VIEIRA SAVI
Orientador(a): PATRICIA TORRES BOZZA VIOLA
Resumo: Durante o processo infeccioso diversas adaptações fisiológicas e metabólicas são feitas no organismo hospedeiro, tanto para combater o patógeno como para limitar o dano desse processo aos tecidos (Schneider & Ayres, 2008). Do ponto de vista ecológico e fisiológico atuação do sistema imunológico no processo infeccioso pode ser dividido em dois processos biológicos distintos, a resistência a infecção, relacionados a capacidade de detectação e eliminação dos patógenos; e a tolerância a doença, que agrupa diversas adaptações que promovem a minimização do danos aos tecidos (Schneider & Ayres, 2008). Uma resposta adequada a um processo infeccioso é dependente um delicado equilíbrio entre esses dois processos biológicos (Soares et al., 2017; Wang et al., 2019; Weis et al., 2017). Mecanismos envolvidos no processo de resistência do organismo a infecção são os mecanismos imunológicos mais bem caracterizados, sendo fortemente associados com a resposta inflamatória induzidas pela infecção. Alterações nesse processos levam a uma perda do controle do processo infeccioso, levando ao aumento e a disseminação dos patógenos no organismo (McCarville & Ayres, 2018; Wang et al., 2019; Weis et al., 2017). A resposta inflamatória induzida pela infecção tipicamente é composta de quatro componentes principais: indutores inflamatórios, sensores que os detectam, mediadores inflamatórios induzidos pelos sensores e tecidos-alvo afetados pelos mediadores inflamatórios. Para cada de tipo inflamação, os componentes podem ser apresentados de múltiplas formas e as diferentes combinações desses elementos irão desencadear vias inflamatórias distintas (Medzhitov, 2010). Os lipídios são a principal fonte de energia em pacientes com infecções, e adaptações no metabolismo lipídico são um requisito crucial para sobrevivência à sepse bacteriana (Garrido et al., 2004; Wang et al., 2016). Os lipídios formam a classe mais diversa das biomoléculas, com papéis chaves na fisiologia dos sistemas vivos, tanto na homeostase quanto em situações patológicas. Além de atuar como componentes estruturais das membranas celulares, os lipídios são fontes de energia e também moléculas sinalizadoras em processos inflamatórios e infecciosos (Pereira?Dutra, Teixeira, Souza Costa, & Bozza, 2019; Teng et al., 2017; van Meer et al., 2008). No nível celular, a dislipidemia induzida pela sepse também leva ao acúmulo ectópico de ácidos graxos e triglicerídeos através do aumento da quantidade de corpúsculos lipídicos (CL) em tecidos não adiposos (Lee et al., 2013; P. Pacheco et al., 2007; Patrícia Pacheco et al., 2002), quadro clinicamente conhecido como esteatose ou degeneração gordurosa. Na célula, o principal local de armazenamento lipídico são os CL ou gotículas lipídicas, organelas centrais na homeostase lipídica (Bozza, D’Avila, et al., 2009; Farese & Walther, 2009). No contexto inflamatório, a formação de CL faz parte da programação anabólica e glicolítica de leucócitos pró-inflamatórios (Castoldi et al., 2020; Everts et al., 2014; Knight et al., 2018). Em doenças infecciosas, a participação do CLs tem sido relatada para todas as classes de patógenos, desde vírus (Carvalho et al., 2012; Samsa et al., 2009) até protozoários (Gomes et al., 2014; Mota et al., 2014), incluindo bactérias (Heloisa D’Avila et al., 2008; Katherine A Mattos et al., 2011) e fungos (Sorgi et al., 2009). Resultados recentes vêm promovendo uma transformação drástica do papel dos CLs no contexto infeccioso e inflamatório. Nessa nova perspectiva, vários trabalhos têm sido mostrados como um papel pró-hospedeiro de CLs (Anand et al., 2012; Bosch et al., 2020; Haldar et al., 2013; Hinson & Cresswell, 2009; Knight et al., 2018). No contexto pró-host, a LD que melhora a resposta imune atua como um polo imunológico inato (Bosch et al., 2020), bem como uma importante plataforma para a produção de uma ampla gama de eicosanoides protetores hospedeiros, como leucotrieno B4 (LTB4) e prostaglandinas E2 (PGE2) (Knight et al., 2018; P. Pacheco et al., 2007). Além disso, a síntese de lipídios neutros e acúmulo de CL são importantes intensificadores do perfil pró-inflamatório dos macrófagos (Castoldi et al., 2020; Dias et al., 2020). Com base no que foi exposto, nossa hipótese nesse trabalho é que os CLs participam nos processos de resistência a infecção bacteriana e disfunção dos mecanismos de tolerância ao dano, sendo um importante orquestrador e amplificador da resposta inflamatória protetiva a infecção bactéria durante a sepse. Como a participação dos CL na resposta antibacteriana em mamíferos ainda não foi plenamente explorado, nosso objetivo principal nesse trabalho será avaliar o papel dos corpúsculos lipídicos na reprogramação imunometábolica e na atividade antimicrobiana de macrófagos murinos.