Bolsista: KAREN DA SILVA SAMPAIO
Orientador(a): OTAVIO DE MELO ESPINDOLA
Resumo: Em dezembro de 2019, casos de síndrome respiratória aguda grave (SARS) surgiram em Wuhan, China, sendo posteriormente associados a um novo Coronavírus (SARS-CoV-2). Desde então, manifestações neurológicas têm sido descritas além dos sintomas típicos da doença por coronavírus 2019 (COVID-19), incluindo febre, tosse, diarreia e fadiga. No entanto, antes da implementação de estratégias de vacinação em massa, a COVID-19 foi associada a um amplo espectro de alterações neurológicas do sistema nervoso central (SNC), incluindo quadros de cefaleia persistente associada a hipertensão intracraniana idiopática, meningoencefalites, encefalomielites, encefalomielite disseminada aguda (ADEM), e encefalopatia. Possíveis mecanismos implicados no desenvolvimento destas manifestações neurológicas incluem morte neuronal associada à infecção direta, síndrome de hiperinflamação associada à superexpressão de citocinas, autoimunidade, ou ainda processos secundários a distúrbios sistêmicos, incluindo sepse, hiperpirexia, hipóxia, hipercoagulabilidade, e outros. Tem sido demonstrado que pacientes com condições neurológicas distintas associadas a COVID-19, incluindo distúrbios inflamatórios agudos, apresentam diferentes padrões inflamatórios do LCR e com alterações nos níveis de biomarcadores de morte neuronal, tais como a proteína Tau e a cadeia leve de neurofilamento (NfL). Pacientes com cefaleia refratária não mostram alterações inflamatórias no LCR. Por outro lado, pacientes com encefalopatia e doenças neurológicas inflamatórias associadas ao SARS-CoV-2 apresentam perfis distintos de citocinas no LCR e no soro. A encefalopatia foi associada a altos níveis séricos de IL-6, um forte preditor de morbidade/mortalidade em COVID-19. A IL-2, uma citocina derivada de linfócitos conhecida por estimular a proliferação de células T e B, também foi aumentada no LCR desses pacientes. Isso corrobora com a síntese intratecal de IgG e de bandas oligoclonais idênticas de IgG no LCR e no soro. Portanto, esses dados sugerem que o desenvolvimento de encefalopatia em COVID-19 é multifatorial e pode ser conduzido por inflamação sistêmica e processos imunomediados. Por outro lado, doenças neurológicas inflamatórias foram associadas com níveis altos de IL-6, CXCL8 e CXCL10 no LCR, que são comumente secretados por astrócitos e micróglia ativados. Além disso, o LCR desses indivíduos foi caracterizado por pleocitose mononuclear, aumento modesto de proteínas totais, e altos níveis de NfL, revelando um processo inflamatório ativo. Contudo, os mecanismos de neuropatogênese na COVID-19 ainda não são claros. Portanto pretendemos avaliar a expressão de citocinas e fatores neuroinflamatórios em amostras de LCR e soro de pacientes com COVID-19 e síndromes e sintomas de alterações do SNC, de modo a melhor compreender a patogênese destes processos. Para tal será realizada a dosagem de citocinas e fatores inflamatórios por Luminex em amostras de LCR e soro de grupos de pacientes com COVID-19 e as seguintes manifestações neurológicas: (1) cefaleia refratária (n=12); (2) encefalopatia (n=22); (3) doenças neurológicas inflamatórias (IND) (n=14), incluindo meningoencefalite, mielite, encefalomielite disseminada aguda, encefalite, meningite e neuromielite óptica. Por isso, resultados sobre marcadores de inflamação possibilitarão identificar citocinas que influenciam na migração de células imunes para SNC, e os mecanismos disparados pela infecção e que resultam no desencadeamento de manifestações neurológicas na COVID-19. Além disso, será possível compreender melhor os processos envolvidos na neuroinfecção por coronavírus humanos.