Bolsista: PAMELA LIMA DIAS LINS
Orientador(a): JOANNA REIS SANTOS DE OLIVEIRA
Resumo: A maioria dos casos de coinfecção Leishmania/HIV nas Américas ocorre no Brasil, onde a leishmaniose visceral (LV) aparece como a forma prevalente no que se refere à coinfecção. A infecção pelo HIV-1 e pela Leishmania infantum são caracterizadas por uma imunossupressão e uma intensa ativação celular crônica. Estudos anteriores de nosso grupo já demonstraram que a leishmaniose é um cofator para o aumento do grau de ativação em pacientes coinfectados com HIV. Essa intensa ativação imune pode afetar a população de linfócitos T tanto quantitativamente, como funcionalmente, o que pode contribuir para as frequentes recidivas da LV observadas em pacientes HIV+. Além disso, em consequência do status imune ativado na infecção pelo HIV verifica-se o fenômeno denominado imunosenescência, caracterizado por uma exaustão dos recursos imunes primários. Recentemente, nosso grupo demonstrou que a manutenção de níveis elevados de ativação celular, de produtos da translocação microbiana, de IgG3 anti-Leishmania e de uma baixa reconstituição de células T CD4+ poderiam estar associados com as recidivas da LV em pacientes LV/HIV. Entretanto, pouco se sabe sobre a relação entre os dados clínicos, laboratoriais, epidemiológicos ou imunológicos com a evolução dos casos de LV em termos de cura clínica, gravidade ou recidivas. Desse modo, nosso objetivo é descrever as características clínico-laboratoriais e imunológicas de uma coorte de pacientes LV/HIV de um hospital de referência em Belo Horizonte, Minas Gerais, no intuito de verificar se existe alguma relação com o desfecho clínico dos pacientes acometidos. Para isso, serão acompanhados prospectivamente pacientes LV/HIV recidivantes (R, n=10) e não recidivantes (NR, n=8). Os participantes foram diagnosticados no Hospital Eduardo de Menezes, BH/MG e avaliados em três momentos: fase ativa (FA), imediatamente após o tratamento (pós-tto) e seis meses após o tratamento (6mpt). Indivíduos sadios serão incluídos como controles. A coleta de dados clínicos e laboratoriais foi realizada a partir da revisão dos prontuários médicos e exames complementares. Em relação às características epidemiológicas, destaca-se que esta casuística é de maioria composta por pessoas do sexo masculino (77,78%) e com idade de 40 a 49 anos (38,89%), metade deles faziam acompanhamento ambulatorial prévio para monitoramento e acesso ao tratamento para infecção pelo HIV e LV. Além disso, 66,66% (n=12) declararam ser ou já terem sido fumantes; e 55,56% (n=10) deles relataram serem ou já terem sido alcoólatras e 44,44% (n=8) relataram o uso de drogas ilícitas. Em relação ao contexto socio-familiar, há registros dessas circunstâncias nos prontuários de 66,67% (n=12) pacientes, e em todos é perceptível o contexto complexo e o quato isso pode impactar na condição clínica do paciente coinfectado. Em termos clínicos, treze pacientes (72,22%) apresentaram hepatoesplenomegalia, febre (n=12; 66,67%), hiporexia (n=9; 50%) e astenia (n=8 44,44%), respectivamente. Além da ocorrência de dispneia (n=5, 27,78%), edema (n=5, 27,78%) e sangramento (n=4, 22,22%), que com a variável idade >40 anos (61,11%; n=11 na casuística) são fatores que já foram associados ao óbito na LV. Ademais, é importante destacar que 12 (66,67%) dos 18 pacientes apresentaram alguma doença crônica. Todos os pacientes LV/HIV, exceto um, fizeram uso de TARV e a maioria (66,67%; n=12) deles aderiram regularmente à TARV. Quanto à profilaxia secundária, verificou-se que 10 pacientes fizeram uso de forma regular, dos quais sete eram recidivantes e três não-recidivantes. Quantos aos resultados dos exames laboratoriais durante a fase ativa da doença todos os pacientes apresentaram anemia, leucopenia e linfopenia em 15 dos 18 pacientes. Fica claro, portanto, que um melhor entendimento sobre a associação dos fatores epidemiológicos, clínicos e imunológicos irá ajudar a definir os fatores de risco para o início do agravamento da condição clínica, recidivas e melhor manejo dos pacientes.