Revista Eletrônica do Programa de Bolsas - Edição 2

Revista: Edição 2 | Ano: 2024 | Corpo Editorial: Editorial | Todas edições: Todas
ISSN: 2966-4020
Filogeografia dos vetores da febre amarela Haemagogus janthinomys e Haemagogus capricornii na Mata Atlântica
Bolsista: IGOR MELLO DA ROCHA CORPAS MACIEL
Orientador(a): MARCIO GALVAO PAVAN
Resumo: Justificativa e Relevância Entre 2015-2017, foi registrada a reemergência do vírus amarílico (YFV) no Brasil, se alastrando na região silvestre de sua área endêmica (Amazônia e parte do Centro-oeste) para a Mata Atlântica, região considerada indene por quase 80 anos (Abreu et al. 2019). Identificar corretamente os vetores responsáveis pela transmissão do vírus é fundamental para o mapeamento de riscos de transmissão. Neste bioma está presente o vetor primário da doença, Haemagogus janthinomys, que é encontrado em praticamente toda a região tropical das Américas. Esta espécie é ocorre em simpatia em grande parte da distribuição de Hg. capricornii, que é restrita a Mata Atlântica da região sudeste e do sul da Bahia. Estas espécies são diferenciáveis apenas a partir da genitália masculina, pelo olhar de taxonomistas experientes (Silva et al. 2019). Dada a co-ocorrência e a falta de caracteres diagnósticos adicionais, restam ainda dúvidas se Hg. janthinomys e Hg. capricornii representam na realidade variações fenotípicas de uma mesma espécie. No caso de no fato serem unidades taxonômicas distintas, ainda não se sabe de fato o papel epidemiológico que a última espécie tem na Mata Atlântica. Objetivos Gerais e Específicos Analisar filogeneticamente o status taxonômico de Hg. janthinomys e Hg. capricornii e o papel epidemiológico de ambas as espécies no último surto de YFV na Mata Atlântica. Objetivos específicos - Desenhar iniciadores específicos para a amplificação de fragmentos dos genes citocromo oxidase II (coxII) e citocromo b (cytb) com base no genoma mitocondrial de Hg. janthinomys. - Sequenciar para populações de Hg. janthinomys e Hg. capricornii os dois marcadores mitocondriais (coxII e cytb), além de um marcador ribossomal (ITS-2) e um nuclear (white). - - Analisar filogeneticamente os marcadores moleculares sequenciados. - Genotipar amostras positivas para YFV. Metodologia Resumida Amostragem Foram coletados 643 espécimes de Hg. janthinomys/capricornii em 30 localidades da Mata Atlântica, dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo (SISBIO 52472-5, INEA 019/2018). Ao todo, foram feitos 162 pools, dos quais 20 foram positivos para YFV (12,3%). Sessenta machos de 10 localidades da Mata Atlântica foram separados para as análises filogenéticas, dos quais a partir da identificação morfológica de suas genitálias observamos que 25 são Hg. capricornii e 35 são Hg. janthinomys. Desenvolvimento de iniciadores O desenvolvimento de iniciadores para coxII e cytb mtDNA será feito utilizando os programas Primer3 e a ferramenta Blast, disponíveis online (Primer-Blast). O genoma mitocondrial de Hg. janthinomys (NC_028025) será utilizado como modelo. Pretende-se amplificar um fragmento de 500-850pb de cada marcador. Extração de DNA, PCR, Sequenciamento e Análises Filogenéticas A extração de DNA será feita utilizando o kit DNA Tissue and Blood (Quiagen). A amplificação dos fragmentos do gene white e ITS-2 serão feitas com iniciadores e condições já publicados (Wesson et al. 1992; Redenbach et al. 2009). Diferentes concentrações de reagentes e de ciclagem da PCR serão testadas para coxII e cytb. As amostras serão submetidas a reações de sequenciamento pelo método de Sanger, como descrito em Ribeiro et al. (2020). O sequenciamento será realizado no ABI 3730 (Applied Biosystems) na Plataforma PDTIS/FIOCRUZ. O tratamento das sequências, assim como as análises filogenéticas serão feitas por métodos de distância genética e de reconstrução pelos métodos de máxima verossimilhança e inferência bayesiana, assim como descritos em Ribeiro et al. (2021). Caso seja possível diferenciar Hg. janthinomys de Hg. capricornii, os marcadores mais variáveis entre as espécies serão utilizados para identificação dos insetos presentes nos pools positivos para YFV (uma alíquota de cada espécime que compõem os 20 pools positivos está armazenada em freezer). Cronograma Meses 1-5: Desenho de iniciadores para os genes coxII e cytb e ensaios da PCR. Meses 6-10: Amplificação dos fragmentos e sequenciamento de DNA dos quatro marcadores. Meses 8-12: Análises filogenéticas, escrita de relatórios e artigo científico. Bibliografia Abreu et al. Emerg Microb Infect 8, 218 (2019) Reidenbach et al. BMC Evol Biol 9, 298 (2009) Ribeiro et al. Zootaxa 4830 (2020) Ribeiro et al. Zootaxa 4999, 534 (2021) Silva et al. Rev Soc Med Trop 52 (2019) Wesson et al. Mol Phyloget Evol 1, 253 (1992)
Construção e expressão de uma proteína quimérica para uso em formulações vacinais para a esquistossomose
Bolsista: Julia Aquino Murta
Orientador(a): Cristina Toscano Fonseca
Resumo: A incorporação de uma vacina contra a esquistossomose como ferramenta de controle isoladamente ou em associação com a quimioterapia contribuirá para o controle da transmissão e eliminação da esquistossomose como um problema de saúde pública. Modelos matemáticos estimam que uma vacina contra esquistossomose teria um impacto significativo na redução da morbidade e transmissão da doença, especialmente se altos níveis de redução da carga parasitária fossem induzidos pela imunização. Apesar de já existirem vacinas contra a esquistossomose em fase de ensaio clínico, os resultados dos ensaios pré-clínicos indicam que esses antígenos induzem apenas uma proteção parcial. Assim, a busca por formulações vacinais mais eficazes continua sendo necessária. No desenvolvimento de uma vacina efetiva contra esquistossomose um passo fundamental consiste na escolha de um bom antígeno, bem como os estudos dos mecanismos imunes protetores envolvidos na eliminação do parasito. Neste contexto, nosso grupo de pesquisa realizou uma avaliação do proteoma predito do parasito que levaram a identificação de epítopos que se caracterizam como alvos potenciais de uma vacina, adicionalmente também demonstramos que alguns epitopos quando utilizados isoladamente em formulações vacinais são capazes de induzir imunidade protetora. Uma vacina contendo diversos desses epítopos poderia aumentar os níveis de proteção alcançados quando um único candidato vacinal é utilizado. Assim, para esse subprojeto temos como objetivo obter uma proteína quimérica recombinante para ser utilizada com antígeno vacinal. Para desenho da proteína quimérica, utilizaremos ferramentas disponíveis on line para análise, desenho e clonagem virtual. Além disso, dados da literatura serão considerados na escolha dos espaçadores a serem inseridos entre os epitopos. Após a construção será realizada análise de estabilidade, predição de epitopos de célula B e T na sequência da proteína construída e predição de estrutura tridimensional. Um gene sintético será obtido e inserido no vetor de expressão. A expressão será realizada em bactérias e a proteína recombinante será purificada por cromatografia de afinidade. O rendimento e a qualidade da proteína serão avaliados por SDS-PAGE, Western blotting e BCA. A proteína obtida será utilizada futuramente em formulações vacinais em ensaios pré-clinicos em camundongos, e, caso demonstre capacidade de induzir proteção, será utilizada para responder ao objetivo geral do projeto do orientador que é investigar o efeito da desnutrição sobre a eficácia dessa vacina.
Principais causas da MM na literatura científica no período da pandemia
Bolsista: ANDRESSA MEL ALVES DOS SANTOS
Orientador(a): SILVANA GRANADO NOGUEIRA DA GAMA
Resumo: Os óbitos maternos são importantes indicadores de saúde. No Brasil a ocorrência de óbitos ainda é inaceitavelmente elevada. O subprojeto, por meio de revisão de literatura, objetiva analisar a bibliografia dos últimos três anos, nas as Bases de dados: Biblioteca Virtual de Saúde, Scielo e PubMed, a fim de compreender as principais causas da mortalidade materna. O estudo sistemático das bibliografias identificará na literatura científica os fatores de risco para óbito materno e a relação entre as características socioeconômicas e obstétricas com a Covid-19.
A cosmologia Munduruku em diálogo com a saúde coletiva na promoção da saúde e preservação da cultura
Bolsista: ISABELLA GULJOR VICENTE
Orientador(a): MARCELO FIRPO DE SOUZA PORTO
Resumo: Esse subprojeto é parte integrante da pesquisa “Desenvolvimento, sustentabilidade e promoção emancipatória da saúde do povo Munduruku no Médio Tapajós: diálogos interculturais e formação de rede de agroecologia indígena para enfrentar as ameaças do garimpo e outros conflitos ambientais”, coordenada pelo professor e pesquisador Dr. Marcelo Firpo Porto, do Núcleo de Ecologias, Epistemologias e Promoção de Saúde Emancipatória da Saúde (NEEPES). Se propõe a contribuir para a produção de conhecimento sobre questões relativas ao Eixo II do referido projeto intitulado “A perspectiva cosmológica Munduruku sobre alimentação, o rio e os peixes da região na confrontação com as restrições de consumo recomendadas pela OMS e Fiocruz diante dos achados recentes sobre contaminação de Hg (mercúrio)” (FIRPO, 2021). Segundo RAMOS (2003) o povo Munduruku habita diferentes territórios dentro da fronteira nacional brasileira devido à dispersão causada pelo processo de colonização do Brasil. No que diz respeito ao território do médio Tapajós, o garimpo ilegal tem afetado diretamente o seu modo de vida, contaminando o solo, a água e, consequentemente, seus alimentos, impactando violentamente seus hábitos ancestrais e sua relação com a natureza. O objetivo geral do projeto será compreender os princípios que orientam a cultura Munduruku e as conexões possíveis com estratégias do campo da saúde coletiva para a promoção da saúde na região de contaminação ambiental do médio Tapajós. A metodologia se dará por revisão bibliográfica, documental e de mídias audiovisuais criando um banco de dados a ser sistematizado em planilha excel por análise de conteúdo. A participação nas atividades de entrevistas e coletas de dados presenciais a serem realizadas pelos pesquisadores do NEEPES, quando for possível dado o momento pandêmico além da participação e registro em diário de campo das atividades virtuais. Os objetivos do projeto são: (i) realizar um levantamento bibliográfico sobre a questão indígena e os conflitos ambientais no Médio Tapajós; (ii) identificar, através de pesquisa documental, por mídias audiovisuais e artigos científicos a história do Médio Tapajós e de seus povos no que se refere a ocupação e conflitos ambientais; (iii) apoiar a coleta de informações e registros dos pesquisadores do NEEPES junto ao povo Munduruku; (iv) participar das atividades virtuais de construção do processo de inserção no campo da pesquisa principal; (v) apoiar a produção e realização de atividades de divulgação científica do processo e dos resultados da pesquisa; (vi) produzir um artigo de revisão bibliográfica sobre os conflitos indígenas na região do médio Tapajós relacionado à temática da alimentação e dos peixes. Todos os objetivos estão em andamento e sendo amplamente trabalhados. O levantamento bibliográfico foi levantado, com oito textos trabalhados para a produção de artigo que desenvolve a relação entre saúde, território e cosmovisão do povo indígena Munduruku. Aliado à bibliografia, a participação em oficinas virtuais com os membros da equipe de pesquisa e do povo Munduruku do Médio Tapajós auxiliaram na compreensão da história do povo e os conflitos territoriais no médio e alto Tapajós.
SÍNTESE E AVALIAÇÃO BIOLÓGICA DE DERIVADOS BENZIMIDAZOLIDRAZÔNICOS POTENCIALMENTE ATIVOS FRENTE A DOENÇA DE CHAGAS
Bolsista: PEDRO MAYNART CORIOLANO DE MELO
Orientador(a): SAMIR D'AQUINO CARVALHO
Resumo: JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA A doença de Chagas (DCH), também conhecida como tripanossomíase americana, é uma doença tropical causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi (T. cruzi). Foi descoberta em 1909 pelo médico e pesquisador brasileiro Carlos Ribeiro Justiniano Chagas, e possui como principais vetores insetos hematófagos do gênero Triatoma, conhecidos popularmente como “barbeiro”. A DCH é uma doença considerada negligenciada pela Organização mundial de saúde (OMS), tendo em vista principalmente o desinteresse da indústria farmacêutica pois acomete principalmente a população socioeconomicamente desfavorecida (FIOCRUZ, 2022; WHO, 2022a). A DCH é um grave problema de saúde pública global, sendo endêmica nos 21 países da américa Latina. A mesma acomete de 6 a 7 milhões de pessoas, colocando 75 milhões de pessoas em risco de contaminação, e levando a aproximadamente 10.000 mortes (WHO, 2022b). As formas de transmissão mais comuns ocorrem de forma vetorial, transfusão de sangue ou transplante de órgãos, por via oral, por via congênita ou mesmo ocasionado por acidente de laboratório (Góes Costa et al., 2017; De Oliveira; Soccol; Rogez, 2019). Em áreas endêmicas a infecção se dá principalmente de forma vetorial, em contrapartida nas não endêmicas prevalece as demais formas de contaminação. A doença apresenta-se em duas fases: aguda e crônica. A fase aguda é a fase inicial da doença que pode ser sintomática ou não. Já a fase crônica caracteriza-se por um estágio mais avançado da doença, podendo-se manifestar de forma cardíaca, digestiva, cardiodigestiva ou mesmo assintomática. O tratamento no Brasil para a DCH está restrito a utilização do fármaco Benznidazol (Bz), que além de apresentar baixa eficácia na fase crônica (10 - 20 %), apresenta diversos efeitos colaterais (Patterson; Wyllie, 2014; Ministério da Saúde, 2022). Mesmo após um século de sua descoberta, a DCH continua sendo uma importante causa de mortalidade e morbidade no Brasil. Em vista disso, a necessidade de busca por novas terapias antichagásicas é imprescindível (Ministério da Saúde, 2022). PLANEJAMENTO ESTRUTURAL DOS NOVOS DERIVADOS BENZIMIDAZOL-HIDRAZONAS (10 – 26) O núcleo benzimidazol vem sendo estudado por ser uma estrutura privilegiada de grande aplicação na química medicinal. Derivados benzimidazólicos são reportados na literatura apresentando um amplo espectro de atividade biológica como antiprotozoária, anticâncer, antiúlcera, antihistamínico, antimicrobiana, dentre outras (Beltran-Hortelano et al., 2020). Diversos estudos têm mostrado o núcleo benzimidazólico como um importante grupo farmacofórico frente ao T. cruzi (Figura 1) (De La Torre et al., 2017; Beltran-Hortelano, 2020). Ademais, derivados desse núcleo têm sido reportados na literatura como inibidores de enzimas importantes da via metabólica do parasito, como a cruzaína. Este núcleo é descrito na literatura como um inibidor não covalente de cruzaína em concentrações nanomolares e com atividade tripanocida (Santos et al., 2019). Um estudo realizado por McNamara et al. (2020) em parceria com a GlaxoSmithKline (GSK) realizou uma triagem de alto rendimento (HTS), do inglês “high throughput screening”, de diversos derivados benzimidazólicos. O derivado 6 apresentou-se como um hit nessa análise, com IC50 de 0,63 µM frente a forma amastigota de células hospedeiras de fibroblastos embrionários primários de camundongos (NIH-3T3) (Figura 2). Não menos importante, outro núcleo que tem sido de grande relevância no que tange o desenvolvimento de diversas moléculas bioativas é o grupo N-acilidrazona (NAH). Este núcleo possui promissora atividade farmacológica, dentre as quais pode-se citar anticâncer, antiviral, antifúngica, antituberculose antimicrobiana, anti-inflamatória, anticonvulsivante, anti-HIV, antioxidante, analgésica e antiprotozoária (Sharma et al., 2020). Existem na literatura diversos trabalhos os quais reportam a promissora atividade de N-acilidrazonas com atividade frente a T. cruzi (RODRIGUES et al., 2002; Carvalho et al., 2004; Carvalho et al., 2012; Hernández et al., 2013; Poletto et al., 2020; Rosas-Jimenez et al., 2021). Baseado no trabalho de Rodrigues e colaboradores (2002) foram realizadas simplificações moleculares e com a ajuda do programa DOCK (DOCK V 3.5) permitiu-se identificar uma família de N-acilidrazonas como potentes inibidores de cruzaína. Dentre estes, o composto 7 contendo tienil-pirazol como substituinte, exibiu melhor perfil de inibição enzimática com IC50 de 0,2 µM (Figura 3) (Rodrigues et al., 2002). Figura 3 Estrutura química do derivado N-acilidrazona tienil-pirazol ativo frente a cruzaína Baseado no trabalho desenvolvido por Carvalho e colaboradores em 2012 no qual foram sintetizadas e testadas uma série de hidrazonas com atividade antichagásica, destacou-se o derivado (8) que demonstrou, no ensaio “in vitro,” IC50 = 5,9 µM. Após alguns anos, Capelini e colaboradores (2021), obtiveram um conjunto de fenoxiacetoidrazonas, dentre as quais o derivado (9) ganhou destaque com atividade promissora frente a forma amastigota e tripomastigota do protozoário (IC50 = 40 nM). Cabe ressaltar que este derivado (9) se apresentou 37 vezes mais ativo que o benznidazol (IC50 = 1,5 µM). Dessa maneira, evidencia-se a potencialidade do grupo N-acilidrazona na atividade tripanocida in vitro (Figura 4). Figura 4 NAH ativas frente a T. cruzi sintetizada por nosso grupo de pesquisa Nesse sentido, com o intuito de potencializar a atividade, englobando não apenas grupos com atividade tripanocida, mas também com inibição frente a cruzaína aplicou-se a técnica de hibridação molecular. Assim sendo, empregando a hibridação molecular entre os dois potentes inibidores de cruzaína descritos, o benzimidazol (A) e o núcleo N-acilidrazona (B) (Figura 5), pretende-se potencializar o perfil de ação dos novos derivados propostos. Os dois agentes parasitários escolhidos para a realização da hibridação molecular foram os derivados 6, pela oferta da unidade farmacofórica benzimidazol (A) com IC50 de 0,63 µM frente a células (NIH-3T3) de T. cruzi, e 7 contendo o grupo farmacofórico hidrazona (B), com atividade de IC50 = 0,2 µM frente a cruzaína. A importância deste estudo se dá devido a cruzaína ser a enzima mais abundante presente no parasito e estar envolvida em todo seu ciclo biológico, se tornando um alvo molecular muito atrativo. A primeira série de compostos (Figura 6) será baseada em modificações moleculares na porção Het/Ar (10-26) com o intuito de avaliar como o efeito eletrônico e lipofílico dos substituintes pode influenciar o perfil antiparasitário desta nova série de N-acilidrazonas. Baseado no planejamento estrutural, e com o intuito de potencializar a atividade tripanocida a ser observada na triagem dos derivados 10-26 será proposta uma substituição no nitrogênio (NH) do anel benzimidazólico, haja vista a potencial atividade dos compostos 4 e 6. Essa substituição consistirá na troca do hidrogênio por diferentes grupos, a fim de observar se haverá ou não um efeito potencializador da atividade. Além disso, deve-se levar em conta que as propriedades farmacológicas, como a lipofilicidade, são importantíssimas para a fase crônica da DCH (Castelo-Branco, 2015; Ferreira et al., 2019). OBJETIVOS O presente projeto tem por objetivo geral sintetizar novos derivados híbridos a partir de grupos farmacofóricos bem definidos, os quais possam ser úteis na quimioterapia da doença de Chagas. a) Planejar uma série de benzimidazol-hidrazonas utilizando o conceito de hibridação molecular; b) Sintetizar 17 compostos desta nova família utilizando rotas sintéticas viáveis e caracterizá-los quanto às técnicas de espectrometria e espectroscopia; c) Avaliar a atividade tripanocida, “in vitro”, nas duas formas de relevância clínica: amastigotas e tripomastigotas, utilizando protocolos consolidados na literatura; d) Avaliar o perfil citotóxico das benzimidazol-hidrazonas; METODOLOGIA O intermediário benzimidazol metanóico (28) será obtido através da reação de substituição nucleofílica entre o-felilenodiamina (27) e ácido glicólico. O intermediário (28) será oxidado a ácido carboxílico (29) empregando como agente oxidante permanganato de potássio em meio básico. O derivado éster (30) será obtido através da reação do ácido (29) com cloreto de tionila, de modo a formar inicialmente um intermediário cloreto de acila. Este por sua vez, ao ser submetido a refluxo em etanol leva a uma reação de substituição nucleofílica conduzindo assim a formação do intermediário (30). Na etapa posterior, o benzimidazol carbohidrazida (31) será obtido através da substituição acíclica utilizando hidrato de hidrazina como nucleófilo. Por fim, os derivados benzimidazol carbohidrazonas (10 - 26) serão obtidos através da reação de adição à carbonila do benzimidazol carbohidrazida (31) aos respectivos aldeídos. PERSPECTIVAS Pretende-se sintetizar uma segunda série dos compostos com os melhores resultados na triagem da avaliação biológica da primeira série, realizando uma substituição no nitrogênio (NH) benzimidazólico por diferentes grupos químicos. Assim como avaliar a atividade tripanocida, “in vitro” e o perfil citotóxico dos novos derivados. REFERÊNCIAS Beltran-hortelano, I.; Alcolea, v.; Font, M; Pérez-Silanes, S.. The role of imidazole and benzimidazole heterocycles in Chagas disease: A review. European Journal of Medicinal Chemistry, v. 206, n. 15, p. 112692, 2020. Carvalho, S. A.; Santa-Rita, R. M.; de Castro, S. L.; Fraga, C. A. M. Synthesis and antitrypanosomal profile of new functionalized 1,3,4-thiadiazole-2-arylhydrazone derivatives, designed as non-mutagenic megazol analogues. Bioorganic & Medicinal Chemistry Letters.; v.14, n. 24, p. 5967-5970, 2004. Carvalho, S. A.; Feitosa, L. DE O.; Soares, M.; Costa, T. E.; Henriques, M. G.; Salomão, K.; De Castro, S. L.; Kaiser, M.; Brun, R.; Wardell, J. L.; Wardell, S. M.; Trossini, G.H.; Andricopulo, A. D.; da Silva, E. F.; fraga, C. A. Design and synthesis of new (E)-Cinnamic N-Acylhydrazones as potent Antitrypanosomal agents. European Journal of Medicinal Chemistry. v. 54, p. 512-521, 2012. Castelo-Branco, F. S. 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A susceptibilidade do vetor Anopheles darlingi às infecções com distintas espécies de Plasmodium: prospecção de um modelo experimental aprimorado para o estudo da malária no Brasil
Bolsista: LUCAS HENRIQUE GOMES
Orientador(a): Paulo Filemon Paolucci Pimenta
Resumo: A malária é uma doença parasitária cujos agentes etiológicos são protozoários do gênero Plasmodium, os quais são transmitidos ao homem através da picada de um mosquito anofelino infectado. Essa doença distribui-se predominantemente nas regiões tropicais do globo, e é endêmica no continente americano, tendo alta prevalência na Região Amazônica. Na Amazônia brasileira, há grande distribuição do Anopheles darlingi, vetor altamente eficiente na transmissão do Plasmodium vivax, o que o caracteriza como principal vetor de malária no Brasil. No entanto, estudos experimentais visando essa importante interação An. darlingi-P. vivax são bastante desafiadores, uma vez que o vetor é difícil de ser mantido em ambientes artificiais, e o P. vivax tem tropismo exclusivo para hemácias jovens, o que determina um obstáculo na manutenção de uma cultura contínua desse parasito para experimentos in vivo no vetor. Sendo assim, estudos sobre essa interação têm sido restritos ao uso de amostras de sangue de pacientes infectados em áreas endêmicas. Por isso, faz-se necessário o estabelecimento de um modelo que possibilite o estudo da interação An. darlingi - Plasmodium sp. independentemente da existência de pacientes infectados. Atualmente, nosso grupo tem mantido uma colônia de An. darlingi oriundos de Manaus-AM, abrindo caminho para a realização de estudos de interação entre a espécie e as diferentes cepas de Plasmodium disponíveis. Portanto, com o objetivo de estabelecer um modelo experimental aprimorado para o estudo da malária no Brasil, iremos avaliar a capacidade de infecção do vetor brasileiro An. darlingi com os parasitos P. falciparum (cepas NF54 e 7G8), P. berghei GFP (cepa ANKA) e P. yoelii (cepas N67 e 17XNL). Resultados preliminares sugerem que An. darlingi se infecta com P. yoelii, e que um dos principais mecanismos de defesa anti-Plasmodium desse vetor pode envolver a melanização dos parasitos. Esses resultados demonstram a necessidade de um estudo mais abrangente, alterando parâmetros e verificando como ocorrerá o processo de infecção ao utilizarmos outros parasitos. Os dados gerados a partir desse estudo auxiliarão no estabelecimento de um modelo experimental vetor-parasito mais fiel à realidade brasileira, e, portanto, mais adequado para o estudo da malária no país.
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