Bolsista: Ariane Ribeiro Hilario dos Santos
Orientador(a): Adriano da Silva
Resumo: De acordo com o coletivo Intervozes (2019) a emergência da desinformação nos últimos anos, trouxe consigo o crescimento do conservadorismo, em especial, instrumentalizando a LGBTfobia, de modo a criar um pânico moral na sociedade, e assim deturpar as lutas por direitos dessa população. Para isso grupos conservadores tem se juntado em sites de mídias sociais, organizando ataques a partir da criação de notícias falsas, "assassinato de reputações", hashtags, etc. Deste modo, o presente subprojeto se alinha ao projeto "Caminhos do ódio nas redes digitais: características e impactos dos discursos de ódio contra mulheres e LGBTQIA+", de modo a contribuir com os objetivos do projeto para caracterizar as notícias e conteúdos desinformativos acerca da população LGBTQIA+.
Uma vez que o subprojeto será desenvolvido no âmbito das ações do Núcleo de Informação e Documentação Cecília Minayo (NID/Claves), centro de documentação especializado no campo da violência e saúde, e integrado à Rede de bibliotecas da Fiocruz, faz-se necessário destacar a característica interdisciplinar na qual é pensado. A biblioteconomia, conforme postulado por Shiyali Ramamrita Ranganathan em 1931, é criada a partir de cinco leis, as quais, (1) os livros são para serem usados; (2) a cada leitor o seu livro; (3) a cada livro o seu leitor; (4) poupe o tempo do leitor; e (5) a biblioteca é um organismo em crescimento (RANGANATHAN, 2009). Em 2021 em dado o desenvolvimento social e tecnológico aferido nas últimas décadas, é necessário pôr as cinco leis em perspectiva, alinhando suas causas, às novas demandas. De acordo com Varela (2005, p. 2), o que caracteriza o século XXI, é o ilimitado desenvolvimento da ciência e tecnologia, gerador de novas necessidades e novas atitudes, e assim "configura-se uma sociedade que busca o conhecimento e novos modelos que possibilitem interpretar e compreender o mundo".
Deste modo, para além dos livros, este campo do conhecimento passa a direcionar seu olhar para imensas quantidades de dados, em fluxos constantes, criados e armazenados em repositórios, acessíveis à dispositivos cada vez mais popularizados. No entanto, o contraponto de uma sociedade com mais acessos à variados conteúdos, em variados registros, é a emergência da sobrecarga informacional, um problema que não é novo, mas que contribui para um cenário de desinformação (JACOBY, 1984; BAWDEN, HOLTHAM, COURTNEY, 1999; INTERVOZES, 2019). Além disso, o cenário de uso de mídias sociais, (Facebook, Instagram, Twitter e Tiktok, etc.) e aplicativos de mensagens instantânea (Whatsapp, Facemessenger, Telegram, etc.) contribui para potencializar este problema (BERNES, 2021; INTERVOZES, 2021).
Conforme explica Romeiro e Pimenta (2021), o desenvolvimento tecnológico das tecnologias de informação e comunicação, em consonância com um mundo mais conectado, torna as fronteiras entre campos das ciências sociais cada vez mais porosas, permitindo um tanto de possibilidades investigativas. Faz parte das competências da biblioteconomia a investigação de questões relacionadas à desinformação, na medida em que pode contribuir para identificação da informação falsa, ou desinformativas, e mesmo propor soluções em contextos multidisciplinares para contenção destas. Essas contribuições se dão a partir de temas próprios do campo da comunicação e da ciência da informação como competência em informação, competência em dados, e competência em mídia (ZATTAR, 2017; COSTAL, SALES, ZATTAR, 2020; ZATTAR, 2020).